Rococó
Definição
Principal estilo de época do século XVIII europeu, o
rococó se desenvolve como uma sutilização à complexidade formal e aos
excessos do barroco, apelando para a leveza, graça e para os coloridos suaves. O termo tem origem na palavra francesa rocaille
[rocalha] - tipo comum de decoração de jardins do século XVIII, com
conchas e rochas - que se populariza por analogia ao termo italiano barocco.
Os alemães se antecipam ao empregar o termo em sua acepção moderna de
estilo artístico referido à arquitetura e artes ornamentais na segunda
metade do século XIX, libertando-o assim do sentido pejorativo que o
acompanha, desde a origem até o século XIX. Mas será apenas em 1943, com
a obra clássica do historiador Fiske Kimball sobre o assunto, The Creation of the Rococo,
que se fixam as origens do estilo na França em meados do século XVIII. A
partir de então, o rococó deixa de ser visto como uma variante do
barroco, passando a ser considerado um estilo autônomo, irredutível ao
barroco e ao clássico.
Os historiadores da arte distinguem dois momentos
do rococó. Um que vai de 1690 a 1730, o "estilo regência", marcado pelo
rompimento com a rigidez arquitetônica do estilo Luís XIV, com a
introdução de curvas flexíveis e de linhas mais soltas. Datam desse
momento, as decorações de Pierre Lepautre (1660 - 1744), as gravuras e
relevos de Jean Bérain a pintura de Jean-Antoine Watteau (1684 - 1721),
pintor mais importante do período que imortaliza "as festas galantes"
(por exemplo, Peregrinação à Ilha de Cítera, apresentada à
Academia em 1717), gênero maior da pintura rococó. Os anos compreendidos
entre 1730 e 1770 marcariam o rococó propriamente dito com a projeção
de uma nova leva de artistas - Juste Aurèle Meissonnier (1695 - 1750),
Nicolas Pineau (1684 - 1754), Jacques de Lajoue II (1687 - 1761), - que
trabalham na remodelação das residências urbanas da nobreza e alta
burguesia parisiense (os chamados hôtels), dotando-as de maior
funcionalidade e conforto. Nesse sentido é que o estilo se desenvolve
ligado à ornamentação de interiores, preferencialmente articulado às
artes decorativas e ornamentais, boa parte delas consideradas menores,
como o mobiliário, a tapeçaria,
a porcelana e a ourivesaria. Um exemplo característico do estilo na
França pode ser encontrado no Salão Oval da Princesa do Hôtel Soubise de
Paris (1738-1740). Na pintura, os nomes mais importantes dessa fase são
François Boucher (1703 - 1770), Jean-Honoré Fragonard (1732 - 1806),
Jean-Baptiste Pater (1695 - 1736) e Jean-Marc Nattier (1685 - 1766). Na
escultura, Etienne Maurice Falconet (1716 - 1791) é considerado a
expressão mais relevante do rococó, como atesta sua célebre Banhista, 1757, e a estátua eqüestre de Pedro, o Grande, em Leningrado, atual São Petersburgo.
Os traços mais salientes do estilo rococó relacionam-se ao uso das rocailles,
que se combinam aos arabescos com linhas curvas em "c" ou "s". As
composições realizadas com extrema liberdade e fantasia mesclam a
sinuosidade das linhas com motivos tirados da natureza: pássaros e
pequenos animais, plantas e flores delicadas, formações rochosas, águas
em cascata ou brotando do solo. Na arquitetura, sobretudo nos
interiores, predominam os traçados sinuosos, as cores claras, o uso da
luz (pelas "janelas francesas" que descem ao chão) e dos espelhos. O
luxo da decoração interna tem o seu contraponto na simplicidade das
fachadas externas dos edifícios. Ao redor de 1760, assistimos à retomada
das tendências e repertórios clássicos, nas pilastras, medalhões e
troféus que tomam conta das decorações. Enraizado culturalmente no
século XVIII, o rococó liga-se à sociabilidade elegante do período, às
modas e maneiras cotidianas que têm nos salões literários e artísticos
expressão significativa. A polidez e a performance social que os salões
evidenciam vêm acompanhadas da importância do luxo e refinamento (do
espírito e do corpo). As artes, nesse contexto, ligam-se diretamente ao
prazer e ao divertimento o que leva os estudiosos a falarem em um fundo
hedonista presente nas mais diversas manifestações do rococó.
A vivacidade e alegria da vida cotidiana, além da
frivolidade elegante da sociabilidade cortesã francesa, rondam também a
pintura rococó, como exemplificam as telas de Boucher e de Fragonard,
seu aluno. Em Boucher, os temas mitológicos associam-se às cenas
galantes, como na famosa Menina reclinada, 1751. As cores delicadas e o erotismo do mestre encontram ressonância no trabalho de Fragonard - O Balanço , 1766, que explora também as paisagens e a pintura histórica.
Nattier, principal retratista do período, retoma, em clave um pouco
distinta, a associação entre vida cortesã e temas mitológicos, por
exemplo em Mme. De Lamberc como Minerva, 1737. Watteau,
pioneiro no interesse pelas festas campestres e pelas cenas teatrais,
imprime à pintura da época não apenas um repertório novo, como também um
método particular, que consiste em justapor pequenas manchas de tinta
sobre a tela, no que será seguido por Pater.
O estilo rococó se internacionaliza rapidamente pela
Europa Central, mas também pela Espanha e Portugal, adaptando-se a
contextos muito diversos. Chama a atenção nesse processo a sua
penetração na arte religiosa, contrariando uma origem ligada à nobreza e
à vida mundana. A arquitetura religiosa rococó, de fraco
desenvolvimento na França, vai conhecer expressão maior seja na região
da Baviera, seja na zona portuguesa do Minho e logo depois no Brasil.
Nessas regiões, o estilo sofre as influências do barroco italiano e das
tradições autóctones, adquirindo feições originais. No caso do Brasil,
especificamente, observa-se a forte penetração do rococó na arquitetura
religiosa desde meados do século XVIII no Rio de Janeiro, em diversas
cidades mineiras (Ouro Preto, São João Del Rey, Congonhas do Campo
etc.), em Pernambuco, Paraíba e Belém.